Dedicado aos lambe-lambes, Festival Tapume cria circuito artístico em Belo Horizonte a partir do dia 7 de junho

Crédito: Samuca Fischer/Reverso Filmes

Projeto reúne 20 artistas em uma exposição de lambes no Parque Municipal e no Palácio das Artes, que acontece até dia 5/7; neste ano, festival inclui ainda a inauguração da Casa de Lambes, no Espaço Mama/Cadela, no Santa Tereza

A arte de afixar cartazes com cola em postes, muros, tapumes e outros espaços públicos das cidades, levando poesia e sonho em palavras e imagens provocativas, faz dos lambe-lambes uma expressão visceral da urbanidade. Após dez anos dedicados a produzir e divulgar essa linguagem em Belo Horizonte, o escritor Leonardo Beltrão, autor do projeto #umlambepordia e diretor da Através – Gestão cultural, idealizou o Festival Tapume, transformando a capital mineira em referência na produção brasileira de lambe-lambes.

O projeto conta com a participação de 20 artistas de várias regiões do Brasil especializados em lambe-lambes e no diálogo com outras vertentes das artes, incluindo pintura, fotografia e grafite, entre outras. Durante um mês, entre os dias 7 de junho e 5 de julho, os artistas vão realizar uma grande ocupação de lambes no centro de Belo Horizonte, com trabalhos nos jardins internos do Palácio das Artes e nas grades externas do Parque Municipal.

Além disso, nesta edição o festival inaugura a primeira Casa de Lambes do Brasil, no Espaço Mama/Cadela, no bairro Santa Tereza, em uma grande festa realizada no dia 7 de junho (sábado), das 16h às 22h, com colagens de lambes ao vivo, videomapping e DJ.

O Festival Tapume nasceu a partir do desejo de Leonardo Beltrão em conectar os artistas do lambe-lambe nacional, valorizando uma cultura presente tanto nas grandes metrópoles como nas pequenas cidades do interior — e, infelizmente, marginalizada ao longo da história, desde quando se popularizou no Brasil, nos anos 1960, a partir do uso político para driblar a censura, até os dias de hoje.

“O lambe-lambe sempre foi marginalizado dentro das próprias artes urbanas que, por si só, já são bastante marginalizadas pela sociedade. Por isso, o Festival Tapume não é um evento que nasce simplesmente para privilegiar o lambe, mas, principalmente, tem a intenção de trazê-lo para um lugar de protagonismo, junto das outras artes de rua. A minha questão foi: já estou há 10 anos nessa história do #umlambepordia, por que não compartilhar esse processo, criando um festival onde a gente pudesse acolher outros artistas, outras formas de manifestação e outras linguagens?”, diz Leonardo Beltrão.

Diversidade

Com uma curadoria assinada por Carol Jaued, Prisca Paes e Maria Vaz, o Festival Tapume prezou por uma seleção de artistas que propusessem diálogos e combinações possíveis entre o lambe-lambe e outras expressões. “A linguagem principal é o lambe, mas fica a critério de cada um trazer outro tipo de intervenção ou de linguagem. Vamos ter obras que vão trabalhar o lambe e a pintura a óleo; outras que vão trabalhar o lambe e o grafite. E obras que vão trabalhar com intervenções mais diretas, quase como gestos performáticos”, adianta a curadora Maria Vaz.

Dos 20 artistas participantes, dez foram convidados e outros dez selecionados por meio de edital, reunindo propostas do Norte ao Sul do Brasil, e que abordam temas diversos, incluindo a maternidade, a ancestralidade, a relação do espaço urbano com o meio ambiente e as nostalgias da infância, por exemplo. Confira a lista completa de convidados no arquivo anexo, no fim do release.

Convidados

Entre os destaques desta edição está Emerson Rocha, conhecido como Saturno, e que apresenta a obra “Ori”. Artista visual afro-brasileiro natural de São Roque (SP), ele está com suas obras estampadas na turnê “Tempo Rei”, a despedida de Gilberto Gil dos palcos. Com foco na estética única do povo negro brasileiro, Emerson faz o uso de um azul específico, obtido através da junção de tinta acrílica e anil africano, além de explorar o dourado e o branco como elementos primários em suas composições.

Outro convidado de peso é o amazonense Denilson Baniwa, que pesquisa sobre as cosmologias, o aparecimento e o desaparecimento indígena da História do Brasil. Recentemente, ele inaugurou a obra “iepé pisasu ara usika (um novo dia nascerá)”, no Instituto Inhotim. No festival, o artista apresenta a obra “Brasil Terra Indígena”, resultado de um trabalho iniciado em 2018, quando realizou, em parceria com o artista visual Jaider Esbell (in memorian), oficinas de lambes em São Paulo para financiar a vinda de indígenas do Norte para o Sudeste.

Do Sul do país, a artista Bruna Alcântara, natural de Curitiba (PR), apresenta um trabalho que investiga, através de autorretratos e da ressignificação de objetivos, as relações sobre maternidade, corpo e memória feminina. Sua obra “Nossa Senhora”, exposta em Portugal e em diversas cidades brasileiras, e desenvolvida durante o seu puerpério, mistura fotografia e bordado, criando um mural tridimensional único. Com uma pesquisa voltada para o lambe desde 2015, Bruna também é idealizadora do Lambes Brasil, organização voltada a fomentar projetos de lambe-lambe de forma institucional.

Casa de Lambes

Para além do circuito de lambes criado como uma exposição viva e colorida em um corredor cultural entre o Palácio das Artes e o Parque Municipal, a Casa de Lambes será inaugurada no Espaço Mama/Cadela como um ponto de encontro dos artistas e um acervo inédito de lambe-lambes no Brasil. O espaço será inteiramente remodelado por imensos painéis de lambes, abrigando obras de quatro artistas convidados e outros 10 selecionados por meio de edital.

Entre eles, Paulo Accioly, natural de Alagoas, que irá inaugurar um imenso mural de 10×12 metros na parte externada Casa de Lambes . Em sua carreira, o artista desenvolve um trabalho que dá voz a grupos marginalizados, incluindo a população periférica, artesãos e transsexuais, além de também remontar as tradições do Nordeste brasileiro. Neste sentido, sua obra no festival, “Alma repleta de chão”, reverencia o Reinado Alagoano, festa religiosa marcada pela chegada do menino Jesus no mês de dezembro, em diálogo com a música mineira, por meio de uma singela homenagem a Milton Nascimento.

Quem também mostra seu trabalho na Casa de Lambes são as integrantes do Basuras Coletiva. Formado por artistas mulheres de Belo Horizonte, o coletivo ocupa as ruas desde 2018, utilizando a arte para combater fake news e promover o “diálogo offline sobre política”. Por meio da linguagem do lambe-lambe, os trabalhos do grupo trazem temas como o meio ambiente, os corpos dissidentes e a autonomia popular.

“A casa vai ser inteira envelopada por dentro e por fora com lambes, incluindo as laterais e os jardins. Também teremos um mega mural numa das empenas do imóvel. A Casa de Lambes vai ser um ponto de encontro do festival, onde os artistas vão se reunir para trocar ideias, onde vão ter palestras, visitas orientadas e bate-papos, além das festas de abertura e encerramento”, diz Leonardo Beltrão.

Rodas de conversa

Nesta edição, a programação do Festival Tapume traz, ainda, duas rodas de conversa com os artistas participantes, que serão conduzidas pelas curadoras Carol Jaured, Prisca Paes e Maria Vaz. Os bate-papos acontecem no dia 8 de junho, das 15h às 18h, na Casa de Lambes, e no dia 21 de junho, das 17h às 22h, nos jardins internos do Palácio das Artes. Em ambas as ocasiões, as curadoras farão uma visita pelas obras e apresentarão a história do lambe.

Este projeto é viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura de Minas Gerais (Lei Descentra Cultura), com patrocínio da Cemig e apoio da Lambe Lambe.

Sobre Leonardo Beltrão

Nascido em Varginha e radicado em Belo Horizonte, Leonardo Beltrão trabalha desde 2014 como gestor e produtor cultural, tendo atuado junto a instituições como Museu Inhotim, Sesc Palladium, Fundação Clóvis Salgado e Ministério da Cultura. Atualmente, dirige a Através – Gestão Cultural. Em 2014, após uma viagem de um ano percorrendo países e cidades da África e da Europa, lançou seu primeiro livro, “A Festa do Adeus” (Relicário Edições). Um ano depois, criou despretensiosamente o projeto #umlambepordia, que hoje conta com milhares de seguidores e, em 2017, rendeu o livro “Poemas de Muro e Amor”.

Cemig: a energia da cultura

Como a maior incentivadora da cultura em Minas Gerais, a Cemig segue investindo e apoiando as diferentes produções artísticas existentes nas várias regiões do estado. Afinal, fortalecer e impulsionar o setor cultural mineiro é um compromisso da Companhia, refletindo seu propósito de transformar vidas com energia. Ao abraçar a cultura em toda a sua diversidade, a Cemig potencializa, ao mesmo tempo que preserva, a memória e a identidade do povo mineiro. Assim, os projetos incentivados pela empresa trazem na essência a importância da tradição e do resgate da história, sem, contudo, deixar de lado a presença da inovação. Apoiar iniciativas como essa reforça a atuação da Cemig em ampliar, no estado, o acesso às práticas culturais e em buscar uma maior democratização dos seus incentivos.

SERVIÇO | FESTIVAL TAPUME 2025

Quando. De 7/6 a 5/7

Onde. Jardins internos do Palácio das Artes e grades externas do Parque Municipal (Avenida Afonso Pena, 1.537 – Centro); Espaço Mama / Cadela (Rua Pouso Alegre, 2.048 – Santa Tereza)

Quanto. Entrada gratuita

Horários. Casa de Lambes (sexta e sábado, das 9h às 18h; domingo, das 10h às 18h); Palácio das Artes (diariamente, conforme horários da casa); Parque Municipal (visitação 24h)

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