Sedentarismo cognitivo: um inimigo silencioso da qualidade de vida

Vivemos em uma era de avanços tecnológicos e automatização que, apesar de inúmeros benefícios, têm contribuído para o surgimento de um novo tipo de sedentarismo: o cognitivo. Diferente do sedentarismo físico, que se caracteriza pela falta de atividade corporal, o sedentarismo cognitivo diz respeito à escassez de estímulos mentais e à redução das atividades que desafiam o cérebro. Esse fenômeno, cada vez mais comum, afeta diretamente a qualidade de vida, interferindo no desempenho acadêmico, profissional e nas habilidades sociais.
Em um mundo em que somos constantemente bombardeados por informações prontas e respostas automáticas, o cérebro deixa de ser desafiado, o que contribui significativamente para esse estado de passividade cognitiva. O cérebro humano, assim como o corpo, precisa de estímulos constantes para se manter ativo e saudável. Quando não exercitado, há uma tendência natural à perda de funções cognitivas, como memória, atenção, raciocínio lógico e criatividade. Essa inatividade cerebral pode desencadear ou agravar quadros de ansiedade, estresse, depressão e, a longo prazo, aumentar os riscos de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.
O sedentarismo cognitivo é caracterizado pela ausência ou diminuição significativa de atividades que estimulam o cérebro, como leitura, resolução de problemas, aprendizado de novas habilidades e interações sociais. Esse conceito, sedentarismo cognitivo, ganhou força a partir da década de 2000, quando pesquisadores começaram a relacionar a “inatividade mental” com o declínio cognitivo e com as doenças neurodegenerativas. A expressão “cognitive inactivity” ou “cognitive sedentary lifestyle” já era usada em publicações científicas para descrever esse fenômeno, mas a tradução e popularização do termo “sedentarismo cognitivo” no Brasil ocorreu nos últimos anos, acompanhando o crescimento das discussões sobre saúde mental e envelhecimento.
Vale ressaltar que a saúde cognitiva é um dos pilares para uma vida longa, funcional e plena. Sendo assim, o sedentarismo cognitivo compromete a qualidade de vida ao afetar diretamente a saúde do cérebro e das emoções. Vejamos alguns impactos negativos a seguir: Redução da neuroplasticidade: A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de formar e reorganizar conexões sinápticas, especialmente em resposta ao aprendizado e à experiência. A falta de estímulo cognitivo compromete esse processo, o que pode levar a um declínio mais rápido de funções mentais. Segundo Draganski et al. (2006), o aprendizado de novas habilidades está associado ao aumento de massa cinzenta em áreas específicas do cérebro. A ausência desse tipo de estímulo leva à atrofia neuronal progressiva; Aumento do risco de doenças neurodegenerativas: Estudos mostram que o sedentarismo cognitivo está associado a maior risco de desenvolvimento de doenças como Alzheimer, demência e comprometimento cognitivo leve. Um estudo publicado por Stern (2002) no Journal of Clinical and Experimental Neuropsychology sugere que atividades cognitivas regulares promovem uma “reserva cognitiva” que protege o cérebro contra os efeitos da degeneração; Comprometimento da memória e atenção: A inatividade mental reduz a eficiência de circuitos neurais envolvidos em memória de trabalho, atenção seletiva e funções executivas — habilidades cruciais para o desempenho acadêmico e profissional. Pesquisas de Diamond (2013), publicadas em Annual Review of Psychology, mostram que funções executivas são altamente treináveis, mas também sensíveis à ausência de uso.
Diante desse cenário, a estimulação cognitiva surge como uma estratégia eficaz para combater o sedentarismo mental. Por meio de atividades que envolvem desafios intelectuais, resolução de problemas, memorização, leitura, jogos de raciocínio e novas aprendizagens, é possível fortalecer as conexões neurais e promover a neuroplasticidade — a capacidade do cérebro de se adaptar e se reorganizar.
Programas especializados oferecem uma metodologia estruturada que pode ser aplicada em todas as idades, beneficiando tanto o desenvolvimento cognitivo de crianças quanto a manutenção da saúde mental de adultos e idosos. Esses programas auxiliam na redução do sedentarismo cognitivo, nos impactos que a presença da tecnologia em nossas vidas. Devemos, assim, reconhecer o sedentarismo cognitivo como uma condição prejudicial ao bem-estar e à produtividade das pessoas para que possamos incorporar atividades de estímulo intelectual à rotina diária. Afinal, um cérebro ativo é essencial para uma vida equilibrada, saudável e com mais autonomia. Combater o sedentarismo mental é, acima de tudo, investir em qualidade de vida.
Erica Oliveira, gestora pedagógica e franqueada do Supera (Ginástica para o Cérebro)
Referência: Different domains of sedentary behavior – ScienceDirect, Preventive Medicine